domingo, 18 de março de 2012

SODOMA OU GOMORRA? VOCÊ ESCOLHE ONDE QUER FICAR.


Estou perplexo como tenho visto os ataques da Rede Record de Televisão, digo da Igreja Universal do Reino de Deus às igrejas evangélicas. Igrejas estas que comungam da mesma fé. Assim, creio eu, deveriam ser, pois tiveram a mesma origem no período da reforma protestante. Não entendo o porquê desses ataques. O que há por trás disso tudo?

Veja bem:

Guerra entre líderes evangélicos – Quem está com a razão? No dia 9 de fevereiro de 2012, o líder da Igreja Universal do Reino de Deus, bispo Edir Macedo, postou em seu blog um vídeo mostrando uma pessoa manifestada com demônio dizendo que o líder da Igreja Mundial do Poder de Deus, ex-bispo da IURD, Valdemiro Santiago, é servo do mal. O vídeo denominado “Aviso aos incautos” está no Youtube e chama atenção de milhares de internautas.

Na programação da IMPD o apóstolo Valdemiro Santiago rompeu o silêncio e resolveu falar contra a Igreja Universal do Reino de Deus que nas últimas semanas divulgou uma série de vídeos denegrindo a imagem da denominação e afirmando que ele estava possuído por demônios. Alguns vídeos com esses dizeres foram postados no Youtube e mostram uma ministração do líder da Igreja Mundial do Poder de Deus rebatendo a todas as acusações feitas pela IURD.

Vendo hoje dia 18 de março de 2012, no programa Domingo Espetacular da Rede Record a reportagem sobre o pastor Valdemiro Santiago de Oliveira, pastor e apóstolo da Igreja Mundial do Poder de Deus, os questionamentos da Record sobre as falcatruas do mesmo, não consigo “engolir” como as pessoas conscientizadas ainda acreditam nisso. Não estou aqui para julgar o tal pastor e apóstolo Valdemiro, mas para abrir os olhos daqueles que em sã consciência sabem e veem muito bem que a Igreja Universal do Reino de Deus faz as mesmíssimas coisas ou até piores.

É repugnante com a ignorância das pessoas não as deixam enxergar o que realmente está a nossa frente - falsos pastores, fundamentalistas e canastrões usam da palavra de Deus para satisfazerem seus desejos e nós aqui meros mortais nos deixamos levar por essas palavras. No ano passado, a Rede Record já tinha criado polêmica quando veiculou uma matéria sobre o cair no Espírito, onde atacou igrejas que utilizam esse tipo de unção. Também fez comentários sobre os cantores do Diante do trono da Igreja Assembleia de Deus denigrindo esta igreja, mais uma vez a pergunta: Por que disso tudo?

Percebo que cada vez mais estamos numa onda de fanatismos e criando abismos cada vez maiores. Estranho. Por que Jesus Cristo deve estar se contorcendo ou indignado onde estiver, vendo estas situações que acabam com a imagem da religião, pois o papel da religião é dar conforto, liberdade e felicidade aos seus fiéis e não escraviza-los e separá-los uns dos outros. As igrejas chamadas de evangélicas hoje estão fazendo as mesmas coisas que a igreja católica fazia na idade média: vendendo indulgências, perseguindo cristãos, abastecendo-se de ouro e prata (hoje, dólares e euro), construindo mega templos e tomando o poder dentro do Estado, elegendo seus políticos para dominação das pessoas, podendo assim perseguir melhor as outras igrejas...

Ficam aqui meus questionamentos sobre o papel destas igrejas na nossa sociedade. Por que damos tanta credibilidade a elas? Será que elas estão fazendo bem o seu papel de Igrejas libertadoras? O que elas querem realmente de nós?

Pense bem, você pode ser mais um dando aquilo que lhe é de mais precioso – sua vida – a estes falsos pastores.
mansão do Bispo Edir Macedo


Templo de Salomão proposto pela Igreja Universal do Reino de Deus.




sexta-feira, 16 de março de 2012

ANTROPOLOGIA: vale a leitura...

Esta obra é um exemplo de “antropologia à distância” ou “antropologia aplicada” e, em certo sentido “antropologia militar”. Estudar a cultura por meio de sua literatura, recortes de jornais, filmes e arquivos, entrevistas com imigrantes., foi necessário num momento em que antropólogos norte-americanos foram convidados pelos militares para apoiar os Estados Unidos e seus Aliados na Segunda Guerra Mundial. Impossibilitados de visitar a Alemanha nazista ou o Japão de Hirohito, antropólogos valeram-se de tais materiais culturais e puderam produzir estudos à distância. 
Publicado postumamente na França em 1950, Sociologia e antropologia traz parte significativa dos ensaios, até então dispersos. Esses escritos – sobre corpo, magia, troca, idéia de morte, noção de pessoa etc.– pautaram as linhas de pesquisa nas ciências sociais e são, atualmente, leitura obrigatória para todo cientista social.
Este estudo de Malinowski foi pioneiro na revelação de que costumes primitivos considerados 'desejos animalescos de pagão' eram produto de uma lei firme e de uma tradição rigorosa, exigidas pelas necessidades biológicas, mentais e sociais da natureza humana, mais do que pela emoção desenfreada ou por excessos irrestritos. [MALINOWSKI, BRONISLAW]



terça-feira, 6 de março de 2012

VALE A REFLEXÃO...

Eu sei, mas não devia
Marina Colasanti

Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.

A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.

A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.

A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.

A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.

A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.

A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.

A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.

A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.

A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.

(1972)

Marina Colasanti
nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no Brasil. Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis. Recebeu o Prêmio Jabuti com Eu sei mas não devia e também por Rota de Colisão. Dentre outros escreveu E por falar em Amor; Contos de Amor Rasgados; Aqui entre nós, Intimidade Pública, Eu Sozinha, Zooilógico, A Morada do Ser, A nova Mulher, Mulher daqui pra Frente e O leopardo é um animal delicado. Escreve, também, para revistas femininas e constantemente é convidada para cursos e palestras em todo o Brasil. É casada com o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna.

O texto acima foi extraído do livro "Eu sei, mas não devia", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1996, pág. 09.